quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Miúfa

Tenho saudades do tempo em que acabar um namoro era arrancar fotografias das paredes do quarto, apagar mensagens do telemóvel, chorar muito e guardar todas as cartas, cartões e CDs gravados numa caixa, no fundo da gaveta. Agora, acabar um namoro com alguém com quem se vive (e com quem até se comprou uma casa) é tirar fotografias das molduras, apagar mensagens do telemóvel e guardar as cartas no fundo da gaveta, mas também fazer contas, ir assinar papéis ao notário, dividir móveis e quadros e talheres, pôr um anel onde estava a aliança de namoro, para não se ver a marca e não se sentir a falta de qualquer coisa em que mexer quando um texto vai a meio e a inspiração não há maneira de chegar, abrir outra conta no banco, fazer mais uma transferência, mudar o contrato da água e da electricidade, ir ao banco mais uma vez e começar a pensar como é que se vai encher as prateleiras e as paredes que vão ficar vazias quando tudo acabar de sair. É suposto ser esta a diferença entre ser-se adulto ou adolescente. Mas de repente, a mim só me parece que o amor se torna tão maduro e tão crescido que passa a ser muito menos apaixonado e mais como uma espécie de contrato que expirou, mais um número no meio de tantos outros. É que no meio de tantas contas e de tanta papelada, uma pessoa quase se esquece daquela parte de chorar muito e jurar que nunca mais vai querer saber de um ser humano à face da terra. Ou então sou só eu, que sou como aqueles cães pastores que estão felizes enquanto tiverem uma tarefa para fazer mas dão em doidos quando tudo pára e as coisas batem a sério.
 
Eu sei que a esta altura do campeonato nem deveria pensar nisto, mas infelizmente eu penso muito em muitas coisas. Embora eu tenha a certeza que isto nunca se vai passar connosco , eu bem sei que nunca se deve dizer nunca.
 

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